domingo, 26 de maio de 2013

A roda do porco-leopardo

Numa das várias caixas de areia do infantário, por vezes, três ou quatro crianças juntavam-se para andar à roda e cantar uma adaptação de uma das várias canções clássicas da nossa infância. Um pouco de contexto: várias crianças nascidas nos primeiros anos dos anos 90 têm uma memória em comum: as Cantigas da Arca de Noé. Quem se lembra disto deve vir a perceber melhor a brincadeira, mas para quem não conhece...as Cantigas da Arca de Noé eram um conjunto de cantigas baseadas num animal. Havia o Tango do Orangotango, o Morcego Taciturno, O Polvo de Tinta Permanente, O Canguru Pugilista...tudo dentro dessa lógica divertida. Hoje é um tanto difícil encontrar informações sobre este fenómeno. Mas eram uma memória comum a muitas crianças na altura. Quando todos pensávamos que éramos completamente diferentes, era possível que alguém começasse a cantar uma das Cantigas da Arca de Noé e os outros a acompanhassem!


Umas das poucas cantigas da Arca de Noé disponíveis na Internet.
Humorada e elaborada! A nossa não era esta, mas...


Adiante...esta brincadeira apoiava-se numa dessas cantigas. A cantiga tinha um refrão cuja letra era, salvo erro, "Que ninguém chame / Leopoldo ao leopardo / Vamos chamar Leonardo". Engraçado, não é? Pois bem, nós, crianças que éramos, percebíamos mal a letra! Não percebíamos a palavra "Leopoldo" e, vejam bem, pensávamos que a música pedia para não chamarmos ao porco "leopardo"! E era isso que nós cantávamos! Dávamos as mãos, rodávamos e cantávamos: "Que ninguém chame ao porco leopardo!". E não é tudo! Para a brincadeira ficar mais divertida, nós chegávamos à palavra "chame" e recuávamos, puxando os braços uns dos outros com toda a força! Para quê? Para cairmos redondos no chão! E caíamos e ríamos! É verdade; não era uma simples roda com cantiga; era também um jogo de vertigem, como dizia Roger Caillois. E podíamos ficar naquilo durante uma meia hora! Sim, era mais uma das brincadeiras que repetíamos vezes sem conta sem nos aborrecermos! Já se sabe como as crianças gostam da repetição. E assim ficávamos: a fazer a roda, cantado (mal) e puxando os braços uns dos outros para darmos um trambolhão!

2 comentários:

  1. Obrigado por todas estas lembranças, eu tinha as duas cassetes e cantava isto em casa com os meus país. Neste momento já só restam os livros e andámos todos à reviver estas musicas graças a si :)

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    1. Bem, sinto-me lisonjeado...muito obrigado! De resto, posso ainda dar um modesto conselho: se por acaso quiser voltar a ouvir estas músicas em vez de simplesmente rever o livro, há bibliotecas portuguesas que ainda têm disponíveis para requisição os dois CD's desta colecção. Eu próprio voltei a ouvir clássicos como O Falcão da Malta e Como é, Sr. Noé graças a uma biblioteca. Não sei é quais os têm...mas dê uma vista de olhos; pode ser que tenha uma boa surpresa! =)

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